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sexta-feira, 1 de julho de 2011

A ORIGEM DA MISÉRIA

                              


                              CONTO: A origem da miséria


Conta-se que há muitos anos atrás morava em terras lusitanas uma senhora chamada Miséria. Ela era muito pobre e tinha apenas alguns pães dormidos para se alimentar. Tudo seria diferente caso ela pudesse desfrutar de um tesouro que tinha em frente à sua casa. Aquela figueira era seu maior objeto de desejo. Aguardava ansiosa para apanhar pelo menos um de seus frutos. Tamanha era a frustração quando via os meninos do bairro se deliciando daqueles seus figos. Jamais conseguiu a graça de poder comer um sequer.

Certo dia passou pela porta de sua casa um velho senhor fatigado de uma longa viagem, a quem recebeu com bastante esmero. (Dona Miséria era sozinha e sentia falta de alguém para conversar. Por causa de seu jeito amuado, seus vizinhos pouco lhe davam atenção. Mas ela não tinha raiva de ninguém, exceto um leve ressentimento com a meninada do bairro que insistia em não saciar sua vontade por aquela suculenta e carnuda fruta.) Com o viajante ela dividiu seus pães. Nunca se sentiu tão bem como agora. Ele era como ela, faminto e sem ninguém. Chegou o momento de partir. Ele a surpreende dizendo: “Pede o que quiseres e terás”. Ela não titubeia: “Quero que qualquer pessoa que subir na minha figueira não consiga descer sem a minha ordem”. Sem entender bem, o andarilho lhe concede essa petição, despedindo-se de sua anfitriã. (Desnecessário dizer que, à primeira chance que teve, Dona Miséria acabou com a festa dos garotos, admoestando-os a não subirem mais em sua árvore, porque jamais pisariam no chão novamente.)

Numa fria noite, bate-lhe na porta uma senhora toda vestida de preto cuja face era inidentificável. “Quem és tu?”, pergunta assustada após abrir a porta. Sem nada ouvir por alguns segundos, sua perna bambeava e sua respiração falhava. “A Morte”, respondeu a sinistra visitante. Feito o sinal da cruz três vezes, Dona Miséria, implora: “Deixa-me viver mais um ano, faz favor, ou um mês, ou um dia, pois?”. A Morte reage em brasileiro: “Neca!”. Dona Miséria, então, suplica seu direito a um último pedido: “Dona Morte, antes de morrer, queria tanto saciar o gosto do rebento da planta cujas folhas Adão vestiu sua nudez. Tenho sido impedida, por inúmeras circunstâncias de experimentar esses figos à frente de minha casa. Colherias um para mim?”. Como até a Morte tem seu lado bondoso, ela subiu na árvore, porém, como supõem, não desceu. “De maneira alguma descerás”, declara veementemente Dona Miséria.

Passados muitos dias, a Terra se enchera de gente. Ninguém morria. O caos era geral. A fome se agravara. A Morte chama sua carrasca à responsabilidade: “Se eu não descer, o mundo vai implodir; preciso fazer meu trabalho”. Muito experta, Dona Miséria concorda, desde que jamais receba essa incômoda visita em sua casa novamente. Sem escolha, a Morte aceita. E é por isso que a miséria anda solta até hoje.
 
 
 
.*FelipeFanuel

Um comentário:

  1. Bah!!! Esta estória eu não conhecia....
    Nossa!!! De arrepiar!!!
    E tu tiras alâmina "Miésria" meses depois de ter postado aqui....
    Bjs

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