Total de visualizações de página

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O RECONHECIMENTO

        
          O mestre, o jardineiro e o hóspede



O anseio da mente é de ser extraordinária. O ego tem sede e fome para que reconheçam que você é alguém. Alguém que realizará esse sonho através da riqueza, ou alguém que realizará o sonho através do poder, ou da política. Pode ser alguém que realizará o sonho através de milagres, de truques, não importa, pois o sonho permanece o mesmo: "É insuportável ser ninguém."

E este é o milagre, quando você aceita sua nulidade, quando você se torna tão comum quanto todos os outros, quando você não quer mais nenhum reconhecimento, quando puder existir como se não existisse. Estar ausente é o milagre.

********* 
Essa história é linda. Bankei (Mestre Zen) é um dos Mestres supremos. Mas também era um homem comum.

Certo dia, Bankei estava trabalhando em seu jardim. Um buscador apareceu, um homem em busca de um Mestre, aproximou-se e perguntou a Bankei, “Jardineiro, onde está o Mestre?”
Bankei sorriu e disse, “Espere. Passe por essa porta, e lá dentro você achará o Mestre.”
Então o homem deu a volta e entrou. Encontrou Bankei sentado num trono, o mesmo homem que ele viu cuidando do jardim.
O jovem perguntou, “Você está brincando? Desça desse trono. Isso é sacrilégio! você não tem respeito pelo Mestre.”
Bankei desceu, sentou-se no chão, e disse, “Assim você torna as coisas difíceis. Agora você não irá encontrar o mestre aqui, pois eu sou o mestre.”
Era difícil para esse homem entender que um grande mestre podia trabalhar no jardim, podia ser uma pessoa comum. Ele foi embora, pois não podia acreditar que aquele homem era o mestre, ele não entendeu.
Todos temem ser ninguém. Somente pessoas raras e extraordinárias não temem ser ninguém – um Gautama Buddha, um Bankei. Um ninguém não é um fenômeno comum; é uma das grandes experiências da vida – o fato de que você é, mas ainda assim não é. Que você é pura existência sem nome, sem endereço, sem fronteiras. Nem pecador nem santo, nem inferior nem superior, apenas um silêncio.
Pessoas estão com medo disso porque toda a personalidade delas terá então desaparecido; nome, fama, respeitabilidade, tudo se vai; daí, o medo. Mas a morte vai tirá-las de você de qualquer forma. Aqueles que são sensatos permitem que essas coisas caiam por si mesmo. Assim nada resta para a morte levar. Depois todos os medos desaparecem, pois a morte não pode acontecer a você; já que nada terá restado para ela. A morte não pode matar um ninguém.

Uma vez que você sente essa anulação do ser, você se torna imortal. A experiência de anular o seu ser, de ser ninguém, é o sentido exato do nirvana, do nada, do silêncio absoluto e imperturbável, sem ego, sem personalidade, sem nenhuma hipocrisia. Apenas silêncio - e a sinfonia dos insetos no meio da noite.
Você está aqui de certa forma, e ainda assim não está.
Você está aqui devido a velha associação com o corpo, mas olhe para dentro e verá que não está. E esse insight, essa percepção, onde há puro silêncio e puro estado-de-ser, isso é sua realidade, que a morte não pode destruir. Essa é sua eternidade, sua imortalidade.
Não há nada a temer. Não há nada a perder. E se você acha que perdeu algo – nome, respeitabilidade, fama – estes são sem valor. Estes são brinquedos de crianças, não servem para pessoas maduras. É hora de você amadurecer, hora de você apenas ser.

Seu ser-alguém é tão pequeno. Quanto mais alguém você for, menor é; quanto mais ninguém você for, maior você é. Seja absolutamente ninguém, e você será um com a própria existência.

SOLIDÃO E SOLITUDE


Quando você está sozinho, você não está só, está simplesmente solitário -- e há uma grande diferença entre a solidão e a solitude. Quando você sente a solidão, fica pensando no outro, sente a falta do outro.

A solidão é um estado de espírito negativo. Você fica sentindo que seria melhor se o outro estivesse ali -- seu amigo, sua esposa, sua mãe, a pessoa amada, seu marido. Seria bom se o outro estivesse ali, mas ele não está.

Solidão é ausência do outro. A solitude com você é a presença de si mesmo. A solitude é muito positiva. É uma presença, uma presença transbordante. Você se sente tão pleno de presença que pode preencher o universo inteiro com a sua presença, e não há nenhuma necessidade de ninguém

Comentário:

Quando não existe "alguém significativo" em nossa vida, podemos tanto nos sentir solitários, quanto desfrutar da liberdade que a solidão traz. Quando não encontramos apoio entre os outros para as nossas verdades sentidas profundamente, podemos nos sentir isolados e amargurados, ou então celebrar o fato de que o nosso modo de ver as coisas é seguro o bastante, até para sobreviver à poderosa necessidade humana de aprovação da família, dos amigos, dos colegas.

Se você está enfrentando uma tal situação neste momento, tome consciência de como está optando por encarar o seu "estar só", e assuma a responsabilidade pela escolha que fez.

A figura humilde desta carta brilha com uma luz que emana do seu interior. Uma das contribuições mais significativas do Gautama o Buda para a vida espiritual da humanidade foi insistir junto a seus discípulos: "Seja uma luz de você mesmo". Afinal de contas, cada um de nós deve desenvolver em si a capacidade de abrir o seu próprio caminho através da escuridão, sem quaisquer companheiros, mapas ou guia.

Osho The Discipline of Transcendence, Volume 1 Chapter 2













sexta-feira, 1 de julho de 2011

A ORIGEM DA MISÉRIA

                              


                              CONTO: A origem da miséria


Conta-se que há muitos anos atrás morava em terras lusitanas uma senhora chamada Miséria. Ela era muito pobre e tinha apenas alguns pães dormidos para se alimentar. Tudo seria diferente caso ela pudesse desfrutar de um tesouro que tinha em frente à sua casa. Aquela figueira era seu maior objeto de desejo. Aguardava ansiosa para apanhar pelo menos um de seus frutos. Tamanha era a frustração quando via os meninos do bairro se deliciando daqueles seus figos. Jamais conseguiu a graça de poder comer um sequer.

Certo dia passou pela porta de sua casa um velho senhor fatigado de uma longa viagem, a quem recebeu com bastante esmero. (Dona Miséria era sozinha e sentia falta de alguém para conversar. Por causa de seu jeito amuado, seus vizinhos pouco lhe davam atenção. Mas ela não tinha raiva de ninguém, exceto um leve ressentimento com a meninada do bairro que insistia em não saciar sua vontade por aquela suculenta e carnuda fruta.) Com o viajante ela dividiu seus pães. Nunca se sentiu tão bem como agora. Ele era como ela, faminto e sem ninguém. Chegou o momento de partir. Ele a surpreende dizendo: “Pede o que quiseres e terás”. Ela não titubeia: “Quero que qualquer pessoa que subir na minha figueira não consiga descer sem a minha ordem”. Sem entender bem, o andarilho lhe concede essa petição, despedindo-se de sua anfitriã. (Desnecessário dizer que, à primeira chance que teve, Dona Miséria acabou com a festa dos garotos, admoestando-os a não subirem mais em sua árvore, porque jamais pisariam no chão novamente.)

Numa fria noite, bate-lhe na porta uma senhora toda vestida de preto cuja face era inidentificável. “Quem és tu?”, pergunta assustada após abrir a porta. Sem nada ouvir por alguns segundos, sua perna bambeava e sua respiração falhava. “A Morte”, respondeu a sinistra visitante. Feito o sinal da cruz três vezes, Dona Miséria, implora: “Deixa-me viver mais um ano, faz favor, ou um mês, ou um dia, pois?”. A Morte reage em brasileiro: “Neca!”. Dona Miséria, então, suplica seu direito a um último pedido: “Dona Morte, antes de morrer, queria tanto saciar o gosto do rebento da planta cujas folhas Adão vestiu sua nudez. Tenho sido impedida, por inúmeras circunstâncias de experimentar esses figos à frente de minha casa. Colherias um para mim?”. Como até a Morte tem seu lado bondoso, ela subiu na árvore, porém, como supõem, não desceu. “De maneira alguma descerás”, declara veementemente Dona Miséria.

Passados muitos dias, a Terra se enchera de gente. Ninguém morria. O caos era geral. A fome se agravara. A Morte chama sua carrasca à responsabilidade: “Se eu não descer, o mundo vai implodir; preciso fazer meu trabalho”. Muito experta, Dona Miséria concorda, desde que jamais receba essa incômoda visita em sua casa novamente. Sem escolha, a Morte aceita. E é por isso que a miséria anda solta até hoje.
 
 
 
.*FelipeFanuel

MARITZA

MARITZA
KATAKANA